sábado, 22 de dezembro de 2007

the beatles - something


A                C#m             F#m  F#m7
You're asking me will my love grow
D G A G#m G F#m F E
I don't know, I don't know

você me pergunta se meu amor vai crescer, eu não sei, eu não sei...

canta o george harrison como se fosse uma abelha voando. o primeiro i don't know é aparentemente sincero, já que em princípio não sabemos nada do futuro. mas o segundo i don't know o pronome i ecoa como um grito de dor, de percepção da alma alongada pelo que se sente (crescendo de ré para sol, nascendo por dentro até cair no lá que é o saber em si), algo tão forte que precisa ser amparado, descido pela grade dos sustenidos e reerguido em fá e mi.

no segundo i don't know george entrega o jogo, ele sabe. no íntimo ele sabe. no sigilo da alma profunda, do coração que pulsa por alguém, ele sabe que o amor vai crescer. já sabia desde as primeiras notas que abrem a música, mas, por pudor, humildade, auto-censura, vergonha ou quem sabe a ternura corajosa de deixar as coisas ser o que são, ele diz que não sabe, mas com a melodia que sobe e desce e ondula em D G A:

A              C#m              F#m   F#m7
You stick around and it may show
D G C G/B Am G F E C
I don't know, I don't know

cola aqui e ele pode aparecer
eu não sei, eu não sei...

mais uma evidência de que o george sabe. ele quer que ela fique por perto, mas tem receio de pedir, de assumir que quer, como um caboclinho tem vegonha de tirar a mocinha para dançar na festinha de são joão. mesmo que o coração quase salte pelos olhos e poros.

a afinação do solo, sua certeza, sua ausência de palavras e sua melodia faz a dúvida rodopiar por baixo do corpo e brotar no meio-dia do que se sente. cantar i don't know, dizer que não sabe, nesse caso, é uma gentileza para com o sentimento. é lidar com cuidado em relação ao outro e a si mesmo, é querer viver cada momento e segundo do Something inteiro.


90

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