
ou i a a
De Hasil Adkins aos Cramps, a sonoridade tem identidade própria, e te surpreende over and over again a cada novo refRÃO! IH-ah-ah
nOvEntA-A
[61 palavras / 146 vogais]
o que vc sente por uma música?

quando aparece o guarda belo, canta o BG que vende artesanato na praia, perto do ponto de ônibus. Mochila fechada, cobertor enrolado, violão em punho, são duas horas da madrugada de um dia assim. Ninguém ouve, ou pelo menos presta atenção, na música que ecoa. um velho anda de terno velho assim assim. Até a próxima parada, os versos insistem em voltar à cabeça, ilha em meio aos sons da multidão. porque é preciso ser assim assado.
uns 90.
[79 palavras]
acho que não é proibido ouvir um sambão em agosto, né?
tem uma certa elevação nessa música, um trem a vapor com motor de beatle com coração apaixonado. uma fumaça que se ergue colorida e marca o céu do ouvido como arco-íris.
quando a mente vai......... se vai.......... se fué
É bom pro mercado
De disco e de gado
Laranja e trator
Mas quem corta a cana
Não pega na grana
Não vê nem a cor
Respeito Barretos
Franca, Rio Preto
E todo interior
Mas não sou texano
A ninguém engano
Não me engane amor

vazar pingar correr voar e se grudar, se colar. nas coisas, nas paredes da casa, no espelho embaçado do banheiro.
e o segredo acha a janela e sai. sai pelos dentes, pelo brilho dos olhos, pelo ar do suspiro, pelos dedos que viram música
90
[68 palavras]
muito louco como a partir da desfragmentação sonora, mental, cardíaca, walter franco vai juntando as notas, o ar que expira, retalhos do que sente e sílabas soltas para entregar uma música como quem deixa um recém-nascido na porta da casa de alguém numa noite estrelada.
pra quem tem mais de três décadas aqui na Terra e, quem sabe, um opalão com um bosch rio de janeiro mastigando fitas k7 no painel.
a palo seco, do primeiro disco de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes (lançado em 1974), fala para quem tenta achar o seu caminho no mundo:90
[89 palavras]
gosto quando ele diz queo verdadeiro amor é vão
estende-se infinito, imenso monolito
nossa arquitetura
o amor como vão (tanto o adjetivo: insignificante, ilusório; como o substantivo: espaço vazio, caminho). em ambos os casos, infinito. uma ponte invisível, ligando, talvez, o que somos ao que desejamos.
é legal sentir o amor como algo transparente e sem fim, que imenso e desconhecido nos arquiteta.
assim, não vê-lo, achar que o perdeu ou que o encontrou são situações menores, porque o amor está. já estava antes e vai continuar depois.
90ão
história dos passarinhos é uma das mais belas canções já escritas no rio grande do sul. leovegildo josé de freitas relata como salvou a vida de um passarinho devolvendo-o à liberdade.
quem conhece sua aldeia é universal, diz a famosa frase do tolstoy. mauro mateus dos santos, o sabotage, rapper da favela do canão, zona sul de são paulo, conhecia muito bem a sua quebrada e a cantava com ritmo and poesia. e é cabuloso e cavernoso seguir as sílabas de sua mente engatilhada pelo brooklyn paulistano, às vezes correndo da polícia, às vezes de kawasaki ninja, às vezes 7 galo... mas cuidado com a viagem, porque o rap é compromisso.
e a alma do sabotage é o rap.
apesar de ter um compositor incerto e mais de 1250 versões conhecidas, hey joe virou um clássico imortal nos dedos do jimi hendrix. mas, nessa versão, martin sexton consegue passear pelo parque do braço do violão e usa as cordas de aço como linhas para uma levantar pandorgas. enquanto ele toca, sua alma sobe. as cordas esticam e a música leva o cara pro alto.
são 2:33s de delicadeza extrema. nuvens fazendo amor.
tubthumping, dos anarquistas ingleses do Chumbawamba, lembra a adolescência, tenha você a idade que for... então, assuma seu lado pop, dance, ande de montanha russa, faça coro com os amigos, beba o que quiser, beba todas. Exercite sua inconseqüência. Só não pare, Danny boy. 090
Inevitável pieguice: I get knocked down!
[51 palavrinhas]
a floresta de sons que emanam da pedra branca convida a mente para um passeio 3D. abrace aborígenes australianos e deixe o som do didgeridoo te levar... flutue com um condor andino, escale um templo azteca, nade sobre o triângulo das bermudas, corra nas pradarias dos peles vermelhas, mova o corpo ao som do sitar indiano, enquanto o espírito se desfaz acima das nuvens do himalaia. almoce com os monges e faça amor na foz do Amazonas.
são novamente 4 horas. saindo dos headphones, um pelotão de ironia invade as ruas desertas da cidade na madrugada fria da mente. soldados vestem capacetes de desespero e coturnos de angústia. pisam pesado o chão úmido. o vento espalha más lembranças e o sapato do motorista acelera a ambulância que grita pela cabeça. alguém do outro lado do telefone se afoga e afunda. mosca na sopa.
"dia após dia eu procuro ir em frente" canta Redson vocal do Cólera, a lendária banda punk que desde 1979 faz com música um caminho contra o sistema.