sábado, 15 de março de 2008

ney matogrosso - cordas de aço




foi uma grande gentileza do Cartola entreabrir a porta de seu coração para nos deixar
ouvir esse samba que balança de leve as cordas mais certas da nossa alma. trata-se de uma longa e íntima conversa, de um momento de desabafo e ternura entre poeta e violão, que, como que por descuido, chega aos nossos ouvidos como um bercinho que se embala. como um violão que se abraça, numa madrugada solitária.


"e no entanto meu pinho"
diz o cantor para o violão. sem revelar tudo que já havia dito antes para o violão, que chora, retruca, samba e canta. como um cachorro ovelheiro, como um amigo de infância, como um ilustre desconhecido que, do nada, pára e escuta toda a história da nossa vida.


"pode cer eu advinho, aquela mulher até hoje está
nos esperando"
não há mais separação entre o instrumento e o cantor. são um só, um ser de três braços, dois peitos e muitas cordas, seis de aço e outras de sentimento e voz.


um som para ouvir abraçado numa morena, numa viola, numa branquinha ou num poste de luz. ou na voz do Ney, sustentando e tropeçando blocos de certezas e incertezas dentro do meu coração.